E o que é que a vida fez da nossa vida?

"Eu realmente gosto de ficar sozinha no meu quarto. No quarto que já não sei se me pertence mais. Eu não moro no lugar onde estou. Não pertenço mais a lugar algum. Eu moro no meu canto, entre meus pertences, entre as coisas que me recordam o que é ser eu.  Quando eu me fecho no meu quarto eu me fecho dentro das minhas coisas, leio meus pensamentos, recordo meus dias, desenho uns romances e jogo tudo fora. Entre as minhas coisas eu realmente sou eu. Dentro do meu espaço, do meu tempo, não há atrasos, não há cobranças não há regras. Quando estou comigo tenho minhas chances de ser livre. Perto da porta que abre para o que está fechado, eu continuo presa no que eu quero viver, e não posso."

Olá! 

Estou três meses atrasada da minha postagem dezembrina, achei até que ela não existiria, mas cá estou eu, ou pelo menos alguma versão que sobrou de mim.

Há um ano estamos experimentando um modo de sobreviver, de existir, de tentar seguir. Pra onde? Só Deus sabe! E eu espero realmente que Ele saiba!

Eu talvez tenha mais motivos para agradecer do que reclamar, 2020 foi muito bom profissionalmente pra mim (me tornei mestra, comecei o doutorado, passei no concurso da UFPE), e estou muito bem de saúde e com todos que eu amo por perto e bem. Não tenho do que reclamar né? Obrigada, Deus! Obrigada, universo!

As coisas agora são tão estranhas que fico tentando pensar como eram antes... às vezes parece que nunca aconteceram, ou que talvez não voltem mais a acontecer. Minha mãe sempre repete: "o mundo só acaba pra quem morre" e essa frase sempre ecoa na minha cabeça com a reflexão de outra: "embora quem quase morre está vivo, quem quase vive já morreu" estamos vivos?

Perdão se te fiz pensar uma coisa ruim, mas é que, indo em oposição a Alberto Caeiro, eu vivo no abismo que é pensar e sentir. 

O que quero dizer com tudo isso é que tenho pensado nos abismos da minha existência, mas tenho sentido pouco, me importado pouco. Parece que estou em suspensão. Imagina o que é o isolamento social para quem é extremamente sociável; pra quem vive com pressa de recuperar o "tempo perdido"; imagina o que é esse caos pra quem sente muito; imagina esse combo. Então.

Eu vi, durante esse tempo, tudo que eu construí nos últimos anos e achei que era concreto, que era eternidade, escorrer pelas minhas mãos. Eu perdi as minhas certezas. Perdi a esperança. O que significa perder a esperança? Eu ainda não sei. O que eu sei é que eu não sou mais a melhor versão de mim. E eu não esperava estar enxergando algo bom nisso tudo, talvez estar bem agora significaria um declínio imenso de humanidade. Então é isto que quero dizer, cara leitora: ninguém está bem. Então quando você enxergar as novas versões das pessoas, saiba que a sua também é outra, e que talvez também não seja a melhor.  A vida vai seguir e uma hora ou outra você se encontra por aí de novo.  Saber lidar com a sua incompreensão e dos outros também é importante. Eu tento. Toda noite eu a levo junto com o inconformismo pra jantar. Não damos uma palavra. Não há o que ser dito. Nem tento. Você não precisa tentar. 

Eu tô por aqui procurando formas de me distrair, de filtrar a dor do mundo, de lidar com a frustração alheia, de enxergar a luz no fim do túnel e repetindo Manoel de Barros: 

E, aquele
Que não morou nunca em seus próprios abismos
Nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas
Não foi marcado. Não será exposto às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.

Boa sorte pra nós!

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